sábado, 30 de agosto de 2014
Ouves a chuva
Ouves a chuva e não dizes nada
ouves a chuva e já madrugada
escreves razões esperanças também
inventas abraços não sentes ninguém
escrever sem parar
num querer e não querer
nesse coração tanto por dizer
sentes a chuva e não dizes nada
cama ainda feita e é já madrugada
inventas beijos nas palavras certas
ouves gargalhadas nas ruas desertas
há tudo em ti em troca de nada
choras com a chuva e é já madrugada
ouves a chuva e não dizes nada
gritos calados em porta fechada
noite sem dormir inventando o amor
acordas o dia com sorriso em flor
Ester Cid
(ao abrigo do código do autor)
Fotografia:Google
quarta-feira, 20 de agosto de 2014
voos
Conheço o cantar dos pássaros
sei quando o canto é da cotovia
do melro ou do rouxinol
que há pássaros só cantam quando anoitece
outros ao nascer do sol
(e)
rompe o nascer do dia
mas neste caminho em que semeei palavras
(e)
só colhi silêncios
existe um pássaro dentro de mim
que silenciou seu cantar
este pássaro solidão tem asas e quer voar.
Ester Cid
quarta-feira, 13 de agosto de 2014
METADES
Não quero
metade
de
nada
Não quero
meios abraços
não quero
meios afagos
não quero
meios sorrisos
não quero
meias verdades
metade
é
meias tintas
não quero
meias tintas
estou-me
nas tintas
para as metades
porque afagos
verdades
carinhos
abraços
beijos
só existem
se forem
completos
inteiros
e nos afectos
eu dou-me
inteira
Ester Cid
(ao abrigo do código do direito de autor)
VITÓRIA DA SAMOTRÁCIA – século II a.C.
sábado, 9 de agosto de 2014
A MENINA
A
meninatinha todos os sonhos do mundo
aqueles sonhos
inofensivos
como só as meninas/os
sabem sonhar
o avô ensinou-a
a ser solidária
com um sentido
tão profundo
que a menina
aprendeu
como é importante
sonhar
como é importante
dar
como é importante
ser livre
como é importante
lutar
pelo o que acreditamos
o tempo passou e a menina cresceu
como só as meninas/os
sabem crescer
de repente
o mundo apertou-lhe
os contornos
do sonho
e
pela primeira vez
sentiu
a angustia de um não
ficou assustada
até submissa
e viveu anos a fio
o que nunca sonhou
numa madrugada
num gesto suicida
disse para ela
não quero
esta vida
e para seu espanto
a garganta gritou
com alegria
sem pranto
desafio
quem
me
queira
matar
ou
tirar
os sonhos
são meus
herança
do
meu avô
não me matam os sonhos
porque eu não deixo.
Ester Cid.
(ao abrigo do código do direito de autor)
Pintura: Frida Kahlo "O Marximo Dará saúde aos Doentes"
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