Hoje quando li a notícia que, no meu Alentejo, uma parte dos idosos tinha fome, veio-me de imediato a memória do "Ti Maneli", que começou a trabalhar no campo com 9 anos e as suas mãos calejadas e tisnadas pelo trabalho e o calor do sol, e sem o dedo indicador direito que lhe foi cortado pela pide, quando esteve preso em Caxias. Lembro o seu olhar terno e a sua voz rouca e doce, cantando "Não me dou à despedida".
Um cante alentejano, que fala das saudades dos que de lá abalaram mas que nunca conseguem fazer a despedida daquele chão.
Cada alentejano que sai da sua terra, precisa de guardar num talêgo feito de retalhos de tecido, uma esperança de regresso.
Assim como se fosse uma permanente safra de esperanças, cuidada em cada momento das nossas vidas, até se tornarem searas de liberdade.
E nestes" talequinhos"de pano, feitos pelas nossas avós, guardamos esperanças, sonhos, ternuras, coragem, lágrimas. Tristezas acumuladas, mas principalmente a força que nos foi dada pela terra e a ternura, a coragem e a honestidade que herdamos dos mais velhos.
Hoje peguei no meu "talequinho" de retalhos de pano e, ao abri-lo, escutei dentro do meu peito este troar crescente de raios em plenas trovoadas, o fragor de mil injustiças semeadas em terra roubada a quem a cuidou, o sol a queimar-me os sentidos em plena tarde de Agosto.
E voltei a ouvir a doce voz do "Ti Maneli", desejando tanto que cada um de nós gritasse NÃO à fome dos nossos "tios Maneis" e todos cantássemos "Não me dou à despedida". Todos juntos. Pois, como bem sabem, "um alentejano na gosta de cantari sozinho."
Ester Cid
Um cante alentejano, que fala das saudades dos que de lá abalaram mas que nunca conseguem fazer a despedida daquele chão.
Cada alentejano que sai da sua terra, precisa de guardar num talêgo feito de retalhos de tecido, uma esperança de regresso.
Assim como se fosse uma permanente safra de esperanças, cuidada em cada momento das nossas vidas, até se tornarem searas de liberdade.
E nestes" talequinhos"de pano, feitos pelas nossas avós, guardamos esperanças, sonhos, ternuras, coragem, lágrimas. Tristezas acumuladas, mas principalmente a força que nos foi dada pela terra e a ternura, a coragem e a honestidade que herdamos dos mais velhos.
Hoje peguei no meu "talequinho" de retalhos de pano e, ao abri-lo, escutei dentro do meu peito este troar crescente de raios em plenas trovoadas, o fragor de mil injustiças semeadas em terra roubada a quem a cuidou, o sol a queimar-me os sentidos em plena tarde de Agosto.
E voltei a ouvir a doce voz do "Ti Maneli", desejando tanto que cada um de nós gritasse NÃO à fome dos nossos "tios Maneis" e todos cantássemos "Não me dou à despedida". Todos juntos. Pois, como bem sabem, "um alentejano na gosta de cantari sozinho."
Ester Cid