segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

PRIMAVERA


voaste no meu corpo
ninho quente
voos
ardentes de paixão
em mim
descobriste primaveras
arco-irís
céu azul
sol de verão
alegres voos
cantar
poesia
sem nunca sentires
a solidão
voaste
do meu corpo
sol de inverno
sem perceberes
que sou ainda Primavera


Ester Cid



BOTTICELLI - "Primavera"

domingo, 26 de janeiro de 2014

AMIGOS PARA SEMPRE.




amiga ester(inha)



Só tu!

minha querida

sou-te sempre sempre obrigado

como muito bem

sabes

.

és

a prática e a teoria

a coragem e a sensibilidade

a religiosidade e o desejo de comunhão

a doçura e a combatividade

a mulher da liberdade

de pensamento

e de acção

de luta

pela sociedade comunista

que ansiamos

e pela qual

sempre sempre

lutaremos



- mesmo que porventura nunca a vejamos

mas que sabemos virá

tarde ou cedo

virá -

.

tudo isso

és

numa só

única e una pessoa

que sempre sabe estar presente

nos momentos

cruciais



és

enfim

a verdadeira amiga

a verdadeira camarada

em toda a verdade

e singeleza

.

a ti

sei

que amo

mas também sei

que recíproco

é

.

sei

que me amas

sei que nunca me utilizarás

como carne para

"canhão"

como meio para os teus fins

nem os de quaisquer(s)

outros/as



- ainda que a tal quais cobras do paraíso

te venham aliciar

ao ouvido -



porque

os teus fins

são serão sempre comuns

com os meus

.

doce e corajosa

combatente mulher alentejana

muro forte

em monforte e abril construída

minha amiga

amo-te

sem medo da palavra amar

- como as pessoas

hábito

tem -

.

ser amigo

é estar lá

no momento certo

em que dele precisamos

com um braço sobre o ombro

um gesto um olhar

nos olhos

e não em lições de cátedra

nas nossas costas tecidas

em puríssima traição

sem sequer

nos

ouvirem



ou como víboras

que em nós se querem

enlaçar

mas quando

"não"

lhes dizemos

- repetidas vezes com toda a paciência deste e do outro mundo -

elas aí estão

com a sua língua bífida

a espalhar veneno

nas nossas

costas



entre

os que julgávamos amigos

que em todo o inesperado

- em breve aliciamento -

nos traiem

.

sim

sinto falta

de todos os dias acordar

e sentar-me a esta mesa

olhando (o) em torno

e dentro de

mim



deixando

sair

o que me atravessa

o que me surja

dizer

o que em cada manhã

melhor exprima o homem

que sou



o ser

transparente

como estas límpidas palavras

que da boca

me

saem

.

irei

voltar a escrever

sempre que tal me surja

como uma interior necessidade

que não possa suster

e apele a libertar-se

de mim

do mais dentro

de mim

.

eu

nunca

trairei os meus amigos

e se algo tiver a dizer-lhes

será

antes de mais

de olhos nos

olhos



mas antes

procurarei ouvir

o que a dizer

me têm

.

isso sim

é

ser

i

humano

e

amigo

fjc

Filipe Jorge Chinita





Querido amigo e camarada Filipe Chinita



Não me agradeças

mas por favor

continua a escrever.



não me agradeças

mas por favor

continua a dar-nos voz



no teu aniversário

disse-te

as tuas palavras

serão sempre

as nossas palavras.



por favor

não nos deixes

sem voz

escreve.

escreve sempre

precisamos de ti.



precisamos de ti

na nossa luta

por

um mundo

mais justo

mais humano.



da tua janela

observa

os trabalhadores

e conta-nos

o seu sentir



escreve

sobre o amor

ás mulheres

e das mulheres

como tu

tão bem

sabes.

faz-nos

sentir

lindas

especiais.



escreve sobre

o humano

como só tu

o consegues fazer



escreve

sobre a luta de classes

escreve

sobre os nossos

ideais



escreve

o que tu quiseres

e achares

mas, por favor

escreve.



obrigada

meu querido

amigo e camarada

Amo-te!

Esterinha


























Arte: Luaninha Luana

sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

A MENINA QUE SABE GUARDAR SEGREDOS.



Desejo que ao receberes este meu aerograma estejas bem de saúde - nós estamos bem, felizmente. Assim começavam sempre as centenas de aerogramas, cartas e postais que a minha mãe lia e escrevia para as suas vizinhas, amigas e camaradas. Era das poucas mulheres que sabiam ler na nossa rua do Alentejo.

Lembro-me de marcarem hora para irem lá a casa para que a minha mãe lê-se ou escrevesse aos maridos, namorados e filhos na guerra colonial... postais para os maridos, irmãos e pais presos em Caxias. Estas ultimas quase sem terem resposta( só mais tarde entendi o porquê) Era um partilhar de segredos, medos, aflições e esperanças. Lembro-me também da paciência e amor que a mãe tinha para resumir em palavras que bastassem aquelas intermináveis conversas, que como eram ditadas não cabiam no aerograma, carta ou postal.

Sempre que alguma mulher vinha ouvir ou ditar uma carta, eu e os meus irmãos já sabíamos que era tempo de brincar na rua ou no Inverno de irmos para a cozinha improvisada no quintal. A vida daquelas mulheres era partilhada com a minha mãe, com uma cumplicidade e amizade que embora muito menina me emocionava.

Uma tarde de Inverno a vizinha Maria Beatriz veio para que a minha mãe lhe escrevesse uma carta para o marido que estava a trabalhar em Lisboa. Assim que a vizinha chegou nós como habitualmente íamos sair para a cozinha do quintal

quando a mãe me chamou e disse "Filha, tu ficas. Vais aprender como tratar da correspondência das nossas amigas, para quando a mãe for para o hospital ser operada à perna tu poderes continuar a minha tarefa".

Lembro-me do orgulho e alegria que senti, lembro-me das centenas de aerogramas , cartas postais que li e escrevi. Nascida de uma família humilde alentejana, foi uma das heranças mais valiosas que a minha mãe me deixou.

Ester Cid
Imagem:google 
                                                                           

domingo, 12 de janeiro de 2014

Sem volta

Uma noite
quando vires a lua pousada numa árvore
pensa por um minuto no poeta
cuja tristeza foi tão grande
que viajou para um país
de onde nunca nunca se volta

Ester Cid
Fotografia de Iain Wilson