quarta-feira, 26 de agosto de 2015

Lá fora chove

Dentro de mim
a tempestade teima em crescer

experimento pensar noutras coisas

mas só me vem à lembrança
o que me ficou por fazer

lutos que não fiz
palavras que ficaram por dizer e escrever
tristezas e mágoas que não partilhei
o cálice de moscatel roxo que ficou por beber
a música que não dancei
os poemas que não declamei

dentro de mim
a tempestade teima em crescer

Talvez se ficar muito quieta, passe

imóvel fico a olhar a chuva

dentro de mim
a tempestade amaina

Lá fora chove
(e)
dentro de mim também.

Ester Cid                                                    





domingo, 23 de agosto de 2015

PÃO



Por um pedaço de pão

um povo é levado a falar

a lutar

se a terra é o ventre

o pão é semente

Melhor do que o pão

é a sua partilha
e divisão

mas nunca
deveria custar lágrimas
o pão que comemos.

Ester Cid
Fotografia:Googole


                                                     

quarta-feira, 5 de agosto de 2015

Tesouros

Continuo a guardar
Abraços como agasalhos
sorrisos como se fossem sóis
palavras como se fossem beijos

Continuo a guardar
Folhas de Outono como se de jóias raras se tratassem
pedras do bosque como se fossem rubis preciosos

Continuo a guardar
estrelas do mar com aromas de maresia
conchas claras como as madrugadas

Continuo a guardar
pedaços de papel brilhante
como se fossem compassos de estrelas
dentro das folhas de um livro

Continuo a guardar
vozes como se fossem hinos

Continuo a guardar
Bilhetes usados de avião, como se dessem direito a voar de novo
O primeiro desenho da minha filha, como se esperasse uma galeria de arte

Continuo a guardar
poemas escritos, com medo de sentir frio por ficar nua.

Ester Cid