quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

Mulheres de Maio

Não importa a tua etnia a tua cor
nem o que chamam de beleza exterior

Se nós mulheres
temos a esperança de Maio
num prenho e terno Abril
temos no ventre o dom da vida
em fecundos hinos mil

nos braços ternos nascem abraços

entre os dedos flores silvestres
colhidas em Maio maduro
cravos vermelhos florescem
em madrugada futuro

em tempos de ditadura
escondemos a nossa dor

(e)

grávidas de esperança
mulheres de Maio
força inteira
lutamos pela liberdade
com esta força guerreira

Ester Cid 
                                                                  

(ao abrigo do código do autor)
Fotografia: Google
                                                                   

terça-feira, 20 de janeiro de 2015

O NOSSO CAMINHO É ...



Aqui onde não há pão nem vinho
onde não se ouvem cantar os galos
aqui onde não há aroma de rosmaninho

.
aqui onde não ouves as rãs nem o sino
não consegues ver as estrelas e a lua
neste teu céu citadino
aqui onde não me sinto tua

aqui onde a chuva cristalina não vem teu rosto beijar
onde o vento não dança nem canta
aqui onde as crianças não podem na rua brincar
e o teu grito morre na garganta

aqui onde não há trabalho
não há searas de pão
onde não há casa para habitar
aqui onde é urgente sonhar
onde se perde razão
aqui onde tudo está a secar

aqui... meu amor estamos

Amanhã quero levar-te daqui
quero dar-te a mão
e de mansinho caminharemos juntos para a fonte da liberdade

Amanhã...meu amor... Amanhã.

Ester Cid

  Imagem: Google
                                                                     

sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

Sempre em mim "Liberdade"

O meu avô materno está sempre no meu coração lembro-me
de um passeio que os dois demos pelos campos primaveris do nosso Alentejo.

Debaixo de um sobreiro, comendo a nossa merenda ele perguntou-me:

"Querida, porque estás triste? "Até te apanhei um grilo e o coloquei na gaiola para o levarmos para casa e o ouvires cantar, como tanto gostas." Respondi-lhe que estava triste por ver o grilo preso na gaiola.

O meu avô sorrindo pegou na gaiola feita de cana retirou a minúscula porta feita em cortiça e deixou o grilo em liberdade dizendo-me de seguida:

"Um dia o povo também irá viver em liberdade, e esse dia minha querida neta, o povo terá a alegria e ternura que vi no teu olhar quando soltei o grilo"

Ester Cid


                                                                                     

terça-feira, 13 de janeiro de 2015

A TERRA A QUEM A TRABALHA


Meus campos alentejanos
agora de solidão
são campos por "emprenhar"
nascer o seu filho pão

sou eu papoila vermelha
nascida sem ser semeada
que teimo em ficar aqui
numa terra que é roubada

mas podem ter a certeza
a certeza da razão
vou continuar a nascer gritando revolução
a terra a quem a trabalha
a quem herda é que NÃO.

Ester Cid.

Fotografia: Google

                                     

sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

AVENIDA DA LIBERDADE

Sempre que te caminho
gosto... gosto muito.
.
Olho as árvores frondosas 
sim aquelas que te fazem de céu.
gosto...gosto muito.
.
consigo abstrair-me
dos carros que te povoam 
gosto...gosto muito.
.
poder caminhar-te
livremente.
quando o povo se manifesta
gosto... gosto muito.
.
porque 
menina avenida sem idade
.
transformas-te num país 
de esperança e liberdade
e eu gosto... gosto muito.

Ester Cid 

                                                                               
                                                                           

quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

A VALSA DO PROLETARIADO.



Dançar sempre foi uma paixão para mim, aliás, todas as formas de arte, sempre me apaixonaram, mas como vos estava contando, adoro dançar. A paixão era tão grande, que eu e o meu irmão (dois anos mais velho que eu) treinávamos em casa, para quando fossemos dançar às colectividades da nossa vila, pudéssemos dançar e encantar... sim era esse o termo: encantar. Dançávamos a valsa romântica e suavemente, o tango com paixão arrebatadora. Em Agosto, mês das festas, na nossa terra e nas aldeias, era certo e sabido, que o par de irmãos não faltava a nenhum baile. Lembro-me que certa vez, ainda em período escolar, realizou-se numa aldeia vizinha uma valsa a prémio.

Havia uma rivalidade sadia, entre a minha vila e as aldeias próximas e todos queríamos ganhar aquele concurso. Só que desta vez o meu pai, achando que eu precisava estudar e descansar, para estar bem disposta, para fazer um exame na segunda feira, não me deixou ir ao baile... eu e o meu irmão estávamos desolados, tínhamos ensaiado tanto. Antes do meu pai ir dormir, o meu irmão ainda pediu mais uma vez, mas não conseguiu demovê-lo e a resposta foi não. O meu pai adormeceu e os vizinhos ansiosos, esperando ver-nos sair no táxi pago pela população, vinham à porta da minha casa (sempre aberta como todas as outras) e diziam “vá, não se atrasem e tragam o prémio para a vila”. Eu chorava desolada, quando a minha mãe me disse: “Filha vai arranjar-te e vai lá ganhar aquilo”.

Corri para o meu quarto e vesti um vestido azul escuro, cortado na cintura , saia em godé, debruada no fundo com arminho branco, calcei os sapatos de verniz com meio salto (feitos pelo meu pai para o efeito), desfiz as tranças que me deixaram o cabelo caído pelas costas e todo ondulado e depois de bem escovado, coloquei uma fita branca de arminho igual ao da guarnição do vestido e atei-a no alto da cabeça com um laço. Por ultimo coloquei o meu perfume de jasmim que ainda hoje uso. Ao entrarmos no táxi éramos saudados pelo povo como se fossemos uns grandes artistas.
No início da competição dançante éramos 15 pares, que a pouco e pouco iam sendo eliminados por um júri, composto por 5 elementos de cada uma das aldeias. Eu e o meu irmão fomos o par vencedor e o prémio, além da taça para a terra vencedora, consistia em coisas que os comerciantes e população doavam para o efeito. Sendo assim, eu e meu irmão trouxemos dois cortes de fazenda (um para um fato de homem e para um casaco de agasalho de mulher) oferecido pelo dono da loja de roupas, mercearias oferecidas pelo senhor da única mercearia da terra, dois perfumes (um de homem outro de mulher), um frasco de álcool, algodão, pó de talco e mercúrio oferecido pela farmácia, duas galinhas oferecidas por um lavrador e chávenas, pratos, guarda-jóias etc...etc. oferecidos pela população. Quando chegámos a casa entramos pela porta do quintal para deixarmos as galinhas no galinheiro. O meu pai que todas as manhãs se levantava por volta das 6 horas, para ir comprar o pão e leite frescos, deparou com os vizinhos a darem-lhe os parabéns pela vitória dos filhos no concurso "valsa a prémio para os melhores".
Quando regressou chegou à porta do meu quarto e me chamou pelo nome e apelido (sinal de zangado), levantei-me muito devagar... as pernas não respondiam, sabia que o meu pai se ia zangar a sério. Quando cheguei á cozinha, a minha mãe estava a falar com o meu pai e a dizer-lhe que eu tinha ido com autorização dela, quando os vizinhos entraram pela porta da rua (sempre aberta) a cantar o hino da terra e a abraçarem os meus pais. Ainda hoje lembro a maneira como o meu pai me olhou, num misto de ternura e orgulho, e me disse “desta vez fica assim, toca a vestir e a tomar o pequeno almoço e logo depois do exame falamos”. É verdade... passei no exame.

Ester Cid


                                                               

sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

Teus dedos cinco sentidos

teus dedos cinco sentidos

aromas de rosmaninho
flores da serra e maresia
olfacto a terra molhada
depois da chuva tardia
quando passeias sozinho
castelo lenda encantada

Teus dedos cinco sentidos

são guias do coração
punho serrado e erguido
guardando um poema Ary
bandeiras rubras ao vento
rompendo o campo e a cidade
visão da minha esperança
amarras que tu desprendes
quanto olhas para mim
doce ilusão de mudança

teus dedos cinco sentidos

golfinhos no rio azul
em alegre audição
cantares de roda e risos de crianças
bater do teu coração
papoilas no meio das searas
cantando revolução
nas terras da margem sul

teus dedos cinco sentidos

sabem-me a boca a desejos
sabem-me ao teu corpo nu
nas brumas de doces águas
beijos de marés salgadas
onde navega eu e tu

teus dedos cincos sentidos

na palma da minha mão
pétalas de rosas silvestres
suave tacto ilusão

o que sinto e não disseste
inunda-me de ternura
meu inquieto coração
que sente a tua doçura

sentir-te ao amanhecer
num quarto de lua nova
cama de lençóis linho
renda de estrelas bordadas
onde fizemos amor
e ficamos de mãos dadas.

Ester Cid.

((ao abrigo do código do autor)

Fotografia: Google