quarta-feira, 25 de março de 2015
Ribeira
Aquela ribeira doce e mansa que corre entre pequenos montes, entalada por pedras grandes e surdas, extensa e solitária planície alentejana, sonhou um dia conhecer o mar.
Abraçou as terras secas e gretadas pelo sol, cantou com as cotovias um belo cântico que suavizava a vida das gentes que trabalhavam as terras, dançou alegremente com o vento, confidenciou o seu sonho à chuva e correu sem cansaço para o concretizar.
Mas - há sempre um mas na vida das belas ribeiras que sonham conhecer o mar - a ribeira cresceu com a cumplicidade da chuva e encontrou rios que quiseram ser seus donos, que lhe apertaram os contornos do sonho e a encheram de lágrimas que salgaram a sua doce água (as ribeiras não nascem para ter donos).
A ribeira começou a perder a doçura e a mansidão, perdeu as forças e o Norte, começou a secar lentamente nas terras gretadas e secas pelo sol. Mas todas as noites confidencia às estrelas e à lua que não vai morrer sem conhecer o mar.
Ester Cid
(ao abrigo do código do autor)
imagem:Google
sexta-feira, 13 de março de 2015
É TEU O MEU COLO.
Sozinho
com frio
com fome
com medo
com sede
caminhava pelas ruas causticantes
com cabelos desalinhados
os seus olhos nem sequer detêm lágrimas
porque já secaram à procura de alguém
os seus pés estão roxos de frio
o seu corpo pequeno e ainda fraco
treme... treme e geme de dor
não sei se é dor física
se é de solidão
este mundo é seu
mas o seu olhar
triste profundo
parece dizer
sinto que aqui
não sobrou lugar para mim
e assim
vai passando pela vida
sem infância, sem escola
talvez menino prodígio
talvez menino estrela
talvez menino luar
aprende a pedir esmola
não tem direito a sonhar
nunca soube o que é brincar
nem colo para adormecer
nem canção para o embalar
Ester Cid.
com frio
com fome
com medo
com sede
caminhava pelas ruas causticantes
com cabelos desalinhados
os seus olhos nem sequer detêm lágrimas
porque já secaram à procura de alguém
os seus pés estão roxos de frio
o seu corpo pequeno e ainda fraco
treme... treme e geme de dor
não sei se é dor física
se é de solidão
este mundo é seu
mas o seu olhar
triste profundo
parece dizer
sinto que aqui
não sobrou lugar para mim
e assim
vai passando pela vida
sem infância, sem escola
talvez menino prodígio
talvez menino estrela
talvez menino luar
aprende a pedir esmola
não tem direito a sonhar
nunca soube o que é brincar
nem colo para adormecer
nem canção para o embalar
Ester Cid.
(Desconheço o autor da fotografia)

segunda-feira, 9 de março de 2015
MARGENS
Vesti-me de mar
para que pudesses navegar em mim
Esperei-te em todas as marés
Enfeitei-me de luar
com o brilho das estrelas
Encontrei-me e perdi-me
Em conchas e búzios segredos
superei as vagas e medos
Adocei as águas
acalmei as tempestades
desenhei-te num arco-íris
(e)
tu
só me olhaste das margens
Ester Cid.
Fotografia: Google
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