sexta-feira, 28 de março de 2014

NÁUFRAGO



A sereia cantou e encantou-o

levou-o ao fundo do mar

mostrou-lhe os corais
as ostras de pérolas raras
(e)
ao emergirem beijou-o

Junto das rochas
os golfinhos cantavam de felicidade

saindo da água
estenderam-se na areia branca da praia
enquanto a sereia alegre e docemente
lhe cantava um cântico de embalar
afagava os cabelos
(e)
lhe beijava docemente os lábios
deixando na sua pele
o aroma do mar

o náufrago adormeceu
(e)
sonhou como há muito tempo não sonhava

sonho de
Luas perdidas, esquecidas
encantadas, sentidas
sereias transformadas
embaladas pelas ondas do mar

transformou a sua sereia em princesa
beijou-lhe os pés
enquanto lhe calçava uns sapatos de lua
beijou-lhe os seios
ao mesmo tempo que a vestia de céu
(e)
dançaram e riram sem tempo

ao despertar
o náufrago sentiu ser
possível escapar
do canto da sua sereia

mas do seu silêncio
por certo jamais

(e)

todas as noites
lê poemas de mar
para a sentir no seu céu da boca

Ester Cid.
Madrugada de 15/03/2014

      
Pintura: O Pescador e a Sereia - Lord Frederick Leighton.